terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CHRISTIANE ROCHEFORT

Christiane Rochefort nasceu em Paris, França, em 1917. Trabalhou como repórter em inúmeros jornais de Paris, destacando-se também como redatora em revistas especializadas em problemas da mulher. Seu romance de estreia Cinzas e ouro, publicado em 1956, apesar da boa acolhida da crítica, passou praticamente despercebido pelo público francês. Mas seu romance seguinte, O repouso do guerreiro (1958) – um comovente retrato da decomposição física e moral de uma mulher apaixonada –, alcançou extraordinário sucesso, tornando-se em pouco tempo um verdadeiro best-seller. O êxito alcançado pelo romance criou condições para que Christiane Rochefort se dedicasse integralmente à literatura, abandonando a carreira jornalística. Assim, em 1961 publicou Os filhos do século, onde evoca com grande realismo, a vida nos conjuntos habitacionais populares; em 1963, Estâncias para Sofia, sátira sobre a vida íntima de um casal pertencente à grande burguesia parisiense; em 1966, Uma rosa para Morrison, onde utiliza a forma do conto filosófico para criticar os costumes contemporâneos.
O repouso do guerreiro, indiscutivelmente o seu melhor romance, narra em estilo vivo, realista, a história de Geneviève, estudante de medicina imbuída de princípios humanitários, que salva do suicídio um alcoólatra inveterado – Renaud – e termina por se entregar a ele quebrando todos os laços que a prendiam à sociedade. O romance desenrola-se em clima de tensão, desespero e autoflagelação de uma mulher, apaixonada até à abjeção por um indivíduo aniquilado e aniquilante, dependente e ao mesmo tempo déspota da mulher vencida. O repouso do guerreiro explora até as últimas consequências o erotismo feminino.
Geneviève vive em estado permanente de exaltação sexual e a lucidez com que aceita o aviltamento provoca no leitor um estado de expectativa que testemunha em favor da habilidade da autora. Adaptado para o cinema em 1962, com direção de Roger Vadim, o romance serviu de veículo para Brigitte Bardot, o maior símbolo sexual da década de 1960.  (Texto de apresentação sobre a autora na edição de O Repouso do guerreiro publicado pela Editora Abril, 1980)
 
Para uma biografia sucinta e mais informações, acesse o link abaixo:
Uma abordagem acadêmica de duas obras de Christiane Rochefort - As crianças do século e Estâncias para Sofia - pode ser apreciada em La critique sociale chez Christiane Rochefort, de Luc Ainsley, no link abaixo:
 
 
 

domingo, 15 de dezembro de 2013

O REPOUSO DO GUERREIRO - Christiane Rochefort (A submissão e a mórbida paixão de Geneviève)

"Bem, afinal de contas, nada feito. Mudei de opinião. Era para rir - imediatamente, tê-lo-ia reconduzido para casa. A cem quilômetros por hora, a cem quilômetros. . . Mas ele queria, era ele quem queria. O poder legal que ele me conferira era de seu uso exclusivo, como uma espécie de muleta para ajudá-lo a ir para onde quisesse, como um policial para fazer medo; nomeou um policial para si, deu-lhe ordens, e agora faz medo a si mesmo com seu policial e lhe obedece. Necessita desse mecanismo, não sou mais que um instrumento, represento o papel que ele me distribuiu. É ele quem faz tudo, não eu. Não faço nada, não fiz nada, não sou eu, não sou eu, juro." (Christiane Rochefort: O repouso do guerreiro. 1958, p. 248. Trad. Barreto Borges. Ed. Abril cultural)
 
 
O repouso do Guerreiro foi filmado, em 1962, por Roger Vadim.
 A personagem central, Geneviève, foi interpretada por Brigitte Bardot. 

O REPOUSO DO GUERREIRO - Christiane Rochefort (O desespero e a esperança de Renaud)

 "Ele tinha, pois, seus limites. Diante da morte, detivera-se. Não tão forte assim, como dizia. Eu recuperava o fôlego. E ele náufrago que descobriu no meio do mar uma tábua podre, que ele sabe podre, mas mesmo assim se lhe agarra, iludindo-se propositadamente a respeito de sua solidez: agarrava-se a meus micróbios. Micróbios salvadores: mas eu não tinha mãos a medir." (Christiane Rochefort: O repouso do guerreiro. 1958, p. 149. Trad. Barreto Borges. Ed. Abril cultural)

 


Imagem utilizada na capa da edição brasileira de O repouso do guerreiro:

Café (1949), de Leonard Tsuguharu Foujita (1886-1962)

O SÉCULO DE BORGES - Eneida Maria de Souza

"Mutilam-se corpos, sacrificam-se versos, e a citação promove a circulação do sentido, que dependerá do lugar em que foi enxertado. A atitude do guarda-florestal escandalizou o público leitor da revista por ter tomado ao pé da letra a prática da citação que todos, sem exceção, exercem: selecionar, cortar, colar e recompor os textos conforme o recorte pessoal." (Eneida Maria de Souza: O século de Borges. 1999, p. 42. Ed. Autêntica/Contracapa)